Daltro da batina, e dos sermões muito além do altar
Rusel Barroso, 5 de abril de 2013
Falar de Daltro é uma tarefa que dá prazer e enche de ânimo os entusiastas da nossa história, mormente quando se carrega nas veias e na alma um amor inquebrantável pela terra que serviu de berço a tantos ilustres, cujas obras continuam a dignificar o orgulho de sua gente e a inspirar o surgimento de outros nomes que também se preocupam em preservar a nossa cultura.
As primeiras narrativas sobre esse eminente cidadão chegaram-me ao ouvido na primeira metade da década de 70, quando tive o privilégio de conhecer um dos homens mais eruditos e polidos da época: Abelardo Romero Dantas, outro profundo amante da vida lagartense.
Ao receber de suas mãos o livro “Heróis de Batina”, que fala da contribuição dos padres jesuítas para a formação do povo brasileiro, o saudoso escritor, num paralelo admirável, não perdeu a oportunidade de também me deixar saber da notável doação dos sacerdotes que passaram pelo nosso município e transformaram os rumos da sociedade lagartense, a exemplo do Mons. João Baptista de Carvalho Daltro. Quiçá os traços políticos do passado não permitissem uma aproximação maior de Daltro à família Romero, contudo as marcas de respeito foram impressas ao longo da história. Oriundo de uma geração mais à frente, Abelardo, ao falar de Lagarto e daqueles que contribuíram para o seu desenvolvimento, trazia na memória a lembrança de um emissário da Igreja que, através de suas obras, conquistou o povo da Vila do Lagarto, admiração que se mantém viva até os dias atuais.
Daltro, além de primeiro administrador oficial do solo lagartense, foi um verdadeiro divisor de águas em nosso município. Suas interferências, deveras significativas, estiveram além do âmbito religioso e, até hoje, servem-nos de lição para o campo social. Vale ainda lembrar, que, em nosso tempo, quando se alude à reforma agrária como novidade, abre-se apenas a porta de uma velha discussão há muito iniciada por Mons. Daltro nas terras de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto.
Esta singela contribuição para coletânea de histórias deste monsenhor, acende-me uma chama que, espero, possa reaquecer e incendiar o orgulho dos lagartenses ao trazer à baila, esse sergipano que, em Lagarto, plantou para posteridade seu cerne de homem do povo.
Daltro da área de terra para se plantar; da batina e dos sermões que nos levam de Vieira a Guimarães; do imprescindível cavalo para o transporte, deleite e obrigações; do domicílio para se casar; dos ensinamentos de trabalho para uma geração independente; das recomendações para as reservas e economias; das mensagens e reflexões que ensinaram a Lagarto os princípios basilares do progresso, sem perder de vista o amor para o crescimento deste mesmo lugar.
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Prezado Emerson, muito nos honra a sua visita ao Portal Lagartonet. Infelizmente, não temos conhecimento da informação que apresenta sobre Mons. Daltro, mas, se descobrirmos algo que aponte para esse caminho, informaremos ao caríssimo leitor, em primeira mão. Saudações lagartenses!
Professor Russel, gostaria de saber um pouco sobre um encontro entre Daltro e Antonio Conselheiro, pois Daltro usou a fé das beatas para impedir Conselheiro de entrar em Lagarto.
Caro amigo Paulo,
fico-lhe grato pela generosidade das palavras. Sua visita muito nos honra com contribuições que têm enriquecido deveras o Memorial Lagarto On-line. A “Cidade Ternura” é cativante e continua a apaixonar os que bebem de sua fonte.
Abraço,
Rusel Barroso
Caro colega Rusel Barroso! É com satisfação que acabo de ler as suas anotações a respeito do nosso querido Mons. Daltro, como ficou conhecido. Quando tomo conhecimento de quaisquer comentários a respeito das coisas do nosso Lagarto, passo logo a interessar-me prontamente e, ultimamente, tenho visitado o site Lagartonet quase diariamente e tenho tido o prazer de ler com alegria matérias como a que você elegantemente expôs para o deleite de todos os papa-jacas e fico na expectativa de novas visitas de outros lagartenses.